domingo, 22 de março de 2009

89 - INT. CASA LUXUOSA. NOITE

Tudo-ou-Nada segue pelo corredor da mansão, com a sua lanterna "flou" e um lenço vermelho cobre seu rosto.












Uma mulher bonita aparece e, ao invés de fugir, o ataca, conseguindo arrancar o lenço de seu rosto.












O bandido atira na mulher...














... que cai sangrando.

André Guerreio Lopes como Tudo-ou-nada




quarta-feira, 18 de março de 2009

domingo, 15 de março de 2009

Continuação de "O Bandido da Luz Vermelha" é projeto de família

DANIELLE NORONHA
Colaboração para o UOL

A continuação de um dos mais importantes filmes do cinema marginal, "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla (1946-2004), é, em primeiro lugar, um projeto em família.

Com o roteiro deixado por Sganzerla, quem assume a direção é Helena Ignez, viúva do diretor, ao lado de Ícaro Martins. No principal papel feminino, o longa conta com a participação filha da diretora com o cineasta, Djin Sganzerla, que no filme contracena com seu marido, o ator André Guerreiro Lopes.

Thiago Fogolin/UOL

Jane (Djin Sganzerla) é namorada de Tudo-Ou-Nada (André Guerreiro Lopes) em 'Luz nas Trevas'

A personagem de Djin se assemelha à da mãe no primeiro filme, de 1968. Ambas se chamam Jane. Helena interpretou a namorada de Luz Vermelha, e, nesta sequência, sua filha é a companheira de Tudo-Ou-Nada (Lopes), filho do bandido com a personagem de Sandra Corveloni, vencedora da Palma de Ouro de melhor atriz em Cannes.

"O que se leva dessa vida, é a vida que se leva". É com essa fala da Jane que a atriz começa a nos contar um pouco sobre a sua personagem, que não têm apenas o nome em comum, garante a atriz. "As duas são mulheres fortes. São independentes e não esperam nada do homem, além da satisfação, da alegria do momento presente", diz.

Ao mesmo tempo são Janes distintas. Para Djin, a principal diferença entre elas é que a sua personagem gosta do Tudo-Ou-Nada. A Jane do Bandido, porém, tem outra relação: "Ela é uma pistoleira tanto quanto ele, ela é quem o dedura e se vinga, a minha Jane já não entraria no mundo do crime ao ponto de se incriminar. Por mais que ela seja um pouco selvagem, um pouco louca, ao mesmo tempo ela pensa que ele poderia mudar de vida", conta.

O preparo para viver a Jane de "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha" foi feito de diversas formas. Djin buscou inspiração em filmes, no trabalho da mãe e, principalmente, em uma fonte interna. "Eu empresto para a personagem uma certa liderança, a determinação e a vontade de viver, mas ao mesmo tempo sou diferente de tudo isso. Eu acho que esse é o grande prazer de viver uma personagem que é e não é como eu sou", afirma a atriz. "A Jane é uma mulher que vive o momento presente. Ela representa o ápice do frescor, da alegria e do amor", completa.

Para a atriz, participar desse projeto é uma satisfação enorme e ela citar um importante ponto forte do filme: o roteiro. "É muito original, não convencional na forma de pensar e fazer cinema. É poético e ao mesmo tempo anárquico, um roteiro dos tempos atuais, é algo extraordinário", diz.

André Guerreiro Lopes, que interpreta o Tudo-Ou-Nada, conta que a parceria deles é de muita criatividade e estímulo mútuo: "Quando estamos juntos em um trabalho, a sensibilidade que ela tem, somada a visão de composição que eu tenho, é um dos traços que funcionam muito bem".

Djin Sganzerla já foi dirigida por seu pai em "O Signo do Caos" e participou de filmes como "Meu Mundo em Perigo", de José Eduardo Belmonte, do premiado "Meu Nome é Dindi", de Bruno Safadi, filme que pelo qual foi premiada como melhor atriz no Festival de Cinema Luso-brasileiro, e "Falsa Loura", do diretor Carlos Reichenbach.

Ney Matogrosso
"Luz Nas Trevas" tem diversas ligações com o primeiro filme, como por exemplo o uso de diversas narrações com diferentes pontos de vista. Mas, segundo Ícaro Martins, o próprio Rogério já deixou tudo claro no roteiro: "Não é a cópia do que foi feito, é uma evolução".

O Bandido da Luz Vermelha volta nesta sequência como presidiário, e é o cantor Ney Matogrosso que dá vida ao personagem que já foi interpretado por Paulo Villaça (1946-1992) no primeiro filme. "Quando Helena me convidou e disse do meu olhar, eu já sabia o que eles queriam", conta Matogrosso. "Eu estou à disposição para fazer o que eles quiserem", completa.

Além de Matogrosso, o elenco conta com mais de 80 atores, além da participação de diversos figurantes da comunidade de Heliópolis. Bruna Lombardi, Maria Luísa Mendonça, Sérgio Mamberti e Simone Spoladore são alguns dos nomes que estão presentes no filme.

As filmagens de "Luz Nas Trevas: A Revolta de Luz Vermelha" acontecem em São Paulo e a previsão de estréia é para o final deste ano.

Álbum do UOL do filme:
http://cinema.uol.com.br/album/luz-nas-trevas-revolta-luz-vermelha-set_album.jhtm

quinta-feira, 12 de março de 2009

"


...quis mostrar também o lado neurótico, incômodo, difícil, da mulher moderna. Pela primeira vez em nosso cinema, uma mulher canta, berra, bate, dança, deda, faz o diabo. Neste filme ela é Marlene Dietrich co-dirigida por Mack Sennet e José Mojica Marins, isto é, por mim."


(Rogério Sganzerla, sobre Helena Ignez em A Mulher de Todos, seu filme de 1969)




Em 2009, na direção de Luz Nas Trevas, Helena Ignez filma diversas mulheres que cantam, berram, batem, dançam, dedam, fazem o diabo.


E, ela mesma, está no elenco, no papel de Madame Zero.

domingo, 8 de março de 2009

Ney Matogrosso empresta exibicionismo dos palcos a Bandido da Luz Vermelha

por Silvia Ribeiro Do G1, em São Paulo (07 de Março de 2009)

Quarenta anos depois, personagem ressurge no cinema.
G1 acompanhou bastidores da continuação do filme de 1968.

Apesar de ter morrido eletrocutado, envolto em fios elétricos, ao final de “O Bandido da Luz Vermelha”, o personagem-título do clássico do cineasta Rogério Sganzerla, ressurge no cinema 40 anos depois. Desta vez, na pele do cantor Ney Matogrosso que empresta a Luz Vermelha um pouco do exibicionismo do “Ney dos palcos”.

As filmagens de “Luz nas Trevas, a Volta do Bandido da Luz Vermelha”, continuação do filme de 1968 que revolucionou a linguagem do cinema, começaram na se
mana passada em um presído desativado na Zona Leste de São Paulo. Na quinta-feira (5), o G1 acompanhou os bastidores da gravação e conversou com Ney Matogrosso e com os diretores Helena Ignez e Ícaro Martins (veja o vídeo acima).

O personagem Luz Vermelha foi inspirado no bandido que roubava mansões munido com uma lanterna, na São Paulo dos anos 60, mas a história de Sganzerla é uma ficção. No novo filme, cujo roteiro também é do cineasta, morto em 2004, o bandido está preso e conhece o filho, fruto de uma aventura com uma mulher que o visitou na cadeia. Luz Vermelha rejeita o jovem, que resolve seguir a “profissão” do pai.

‘Terceiro imundo’

Helena Ignez, viúva de Sganzerla, diz que, ao escolher Ney Matogrosso, esperava obter a atitude de “um símbolo que quebra tabus, que alarga o comportamento mental”. E a expectativa foi correspondida. “Às vezes eu fico na dúvida: ele é um cantor ou é um ator que finge que é cantor”, aplaude Ícaro Martins.

Ney Matogrosso em cena do filme como Bandido da Luz Vermelha (Foto: Gabriel Chiarastelli/Divulgação)

Esta não é a estreia de Ney na telona. O cantor, que já atuou em um longa-metragem e em dois curtas, admite que aceitou o convite “meio assustado”, mas topou o desafio e até dá sugestões no texto e na caracterização do personagem. “Eu ofereci para ela (Helena Ignez): que tal se o Luz Vermelha tivesse um olhar parado? Achei que poderia ser interessante uma pessoa que olha de olho aberto, que não pisca.”

A pedido dos diretores, ele também empresta a Luz Vermelha o exibicionismo do personagem que encarna nos palcos. “O personagem faz ginástica. Ele se olha no espelho muito. É nisso que eu acho que a gente está colocando aquele meu lado do palco, que é uma coisa de eu estar me exibindo.” Por outro lado, os gestos largos do cantor nos shows foram substituídos por uma atuação minimalista. “Aqui, o mínimo é muito. É tudo contido.”

Ney Matogrosso, que encerra em março, em São Paulo, a turnê “Inclassificáveis” - uma referência à sua versatilidade como intérprete -, fala que chega a se identificar com o também inclassificável Luz Vermelha - personagem a um só tempo cruel, engraçado e debochado. “Ele faz crítica social. Ele se diz um Robin Hood dos pobres. O ponto de vista dele é de defesa do povo brasileiro e eu concordo com isso. (...) Ele se refere muito ao terceiro mundo, ao terceiro imundo, ele fala.”

Cinema pop

De acordo com a diretora Helena Ignez, viúva de Sganzerla, o filme em produção adotará linguagem pop e vai dialogar com o do anos 60, por meio do uso de flashbacks. “É uma linguagem criativa. É um filme de invenção. É claro que é um filme para frente, e um filme de caos também”, define Ignez, que também atuou no filme de 68.

Personagem ressurge 40 anos depois em uma cadeia (Foto: Gabriel Chiarastelli/Divulgação)

As filmagens vão se estender pelo mês de março em outras locações da capital paulista, assim como o primeiro filme, que teve São Paulo como pano de fundo. A previsão é que “Luz nas Trevas, a Volta do Bandido da Luz Vermelha” chegue aos cinemas no final deste ano. O elenco também conta nomes como Maria Luísa Mendonça, Sérgio Mamberti, Simone Spoladore, Sandra Corveloni, Bruna Lombardi e Arrigo Barnabé.

Com Ney Matogrosso, sequência mostra bandido da Luz Vermelha na prisão Publicidade

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo (8 de Março de 2009)

"Com raiva, o tesão sempre aumenta." Esse é um dos aforismos do Bandido da Luz Vermelha, grafitado nas paredes da prisão onde ele desfruta de tempo e espaço para exercitar ambos, a raiva e o tesão, segundo roteiro escrito por Rogério Sganzerla (1946-2004), que está sendo filmado em São Paulo desde domingo passado.

É Ney Matogrosso, 67, quem agora vai viver João Acácio Pereira da Costa (1943-1998), o bandido no qual o cineasta se inspirou para filmar seu "western do Terceiro Mundo", hoje um clássico. O cantor sucede Paulo Villaça (1946-92), o protagonista do primeiro filme.

Desta vez, trata-se de "uma comédia presidiária", diz a atriz Helena Ignez, viúva de Sganzerla, que convidou o cineasta Ícaro Martins para dividir com ela a direção de "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha", o título da sequência.

Sganzerla deitou em 3.000 páginas --depois condensadas num roteiro de 86-- seu humor corrosivo e sua crítica ao sistema prisional brasileiro. "Ninguém se penitencia numa penitenciária"; "o crime só não compensa para os pobres", diz o bandido, além de retomar a associação entre crime e política, expressa no primeiro filme.

(Foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem. Set da sequência de "O Bandido da Luz Vermelha", com Ney Matogrosso à direita)

Cinema escrito

Para cada cena da sequência de "Luz Vermelha", Sganzerla escreveu diversas opções. No período em que encontrou dificuldade para viabilizar financeiramente seus filmes, o diretor "passou a fazer cinema com a máquina de escrever", como diz a atriz Djin Sganzerla, filha do cineasta com Helena Ignez.

Em "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha", Djin interpreta Jane, papel homônimo e equivalente ao de Helena Ignez no primeiro longa. Aqui, Jane é a namorada de Tudo-ou-Nada (André Guerreiro Lopes), filho de Luz Vermelha e seu sucessor na bandidagem.

Tudo-ou-Nada é fruto da relação do bandido com Olga (Sandra Corveloni), uma entre tantas mulheres que se dispõem a ir até a prisão realizar as fantasias sexuais dele.

Nos anos de encarceramento, Luz Vermelha decide ser "bom em tudo". Exercita o corpo com aparelhos de ginástica improvisados e cultiva o pensamento, lendo grandes filósofos.

Quando se dá conta de que a confissão de crimes aumenta seu status na cadeia e lhe garante regalias, passa a assumir mesmo os que não cometeu.

"O personagem tem um lado intelectual que eu não tenho. Gosta de ler Kant e Nietzsche. Só li Nietzsche uma vez e achei chato", diz Matogrosso.

(Foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem. Ney Matogrosso durante as filmagens)

As opiniões do bandido, porém, Matogrosso compartilha com entusiasmo. "Sou contestador. Falo com verdade e prazer as coisas que ele diz, como 'os espertalhões do Brasil não vão para a cadeia'", afirma.

Com apenas algumas pontas em longas e dois curtas-metragens no currículo de ator, Matogrosso tem experimentado "prazer e adrenalina" no set de filmagens de "Luz nas Trevas".

No palco, diz ele, os sentimentos não são diferentes, mas sim a noção de responsabilidade. "Lá, sou um personagem de mim mesmo e eu é que toco o barco. Aqui, não. Estou a serviço dele [o bandido]."

Nu contestador

Disposto a levar adiante a carreira de ator, Matogrosso diz que procurou se colocar "em branco" para que os diretores pudessem "esculpir" nele a performance que desejassem.

Isso não quer dizer que o ator acate sem argumentar as ideias que os diretores lhe apresentam. Quando lhe pediram para fazer uma cena nu, ele respondeu: "Posso até fazer, mas eu ficava nu quando não podia". Matogrosso avalia que expor a nudez deixou de ser um gesto contestador "hoje em dia, quando tudo é consumo imediato e há essa exposição frenética das pessoas".

Helena Ignez acredita que, a despeito de certa banalização atual da nudez, "quando, numa prisão, um homem nu, com uma vela na mão, lê Kant em espanhol, isso é político e contestador". Matogrosso filmou a cena.

Os produtores preveem lançar ainda este ano o filme, cujo orçamento é de R$ 2,8 milhões.

sábado, 7 de março de 2009

Última entrevista

Rogério Sganzerla: (...)Luz nas Trevas... esse nome é explícito demais - as trevas do nosso tempo, as trevas da cultura brasileira, as trevas paulistas. Acho que está todo mundo por fora, as pessoas estão por fora, não estão entendendo nada. Não sabem o que estão fazendo. Não quero ser profeta em meio ao caos. Quero que os outros também entendam isso. Está tão na cara! Temos bons cineastas, eu vejo aí bons filmes, algumas surpresas, mas é só diluição.

(...)

No novo projeto, Luz nas Trevas - revolta de Luz Vermelha, qual a gênese que você faz desse personagem? É o mesmo bandido?
Rogério Sganzerla: Em primeiro lugar, denominamos Luz, e não Bandido, o poderoso experimento de linguagem urbana amortizado no lançamento em São Paulo, premiado nos festivais nacionais e triturado aqui e lá fora, por todo tipo de admiradores - confessos e inconfessáveis, amigos e inimigos da continuidade da luminosidade. Eu acredito na continuidade da luminosidade. No Bandido não houve isso. Vai haver no novo projeto. Vinte anos depois, esse filme ainda é um mito para o imaginário urbano. O novo Luz não pode ser uma diminuição.

--

Última entrevista concedida pelo idealizador e roteirista de Luz nas Trevas, a Alessandra Bastos em 2003, poucos meses antes de seu falecimento. Republicada recentemente no volume ROGÉRIO SGANZERLA da série ENCONTROS da Azougue Editorial.

domingo, 1 de março de 2009

Ensaio Ney Matogrosso e Ariclenes Barroso



Com Ney Matogrosso, Ariclenes Barroso, Helena Ignez, André Guerreiro Lopes e Guilherme Marback.