domingo, 8 de março de 2009

Ney Matogrosso empresta exibicionismo dos palcos a Bandido da Luz Vermelha

por Silvia Ribeiro Do G1, em São Paulo (07 de Março de 2009)

Quarenta anos depois, personagem ressurge no cinema.
G1 acompanhou bastidores da continuação do filme de 1968.

Apesar de ter morrido eletrocutado, envolto em fios elétricos, ao final de “O Bandido da Luz Vermelha”, o personagem-título do clássico do cineasta Rogério Sganzerla, ressurge no cinema 40 anos depois. Desta vez, na pele do cantor Ney Matogrosso que empresta a Luz Vermelha um pouco do exibicionismo do “Ney dos palcos”.

As filmagens de “Luz nas Trevas, a Volta do Bandido da Luz Vermelha”, continuação do filme de 1968 que revolucionou a linguagem do cinema, começaram na se
mana passada em um presído desativado na Zona Leste de São Paulo. Na quinta-feira (5), o G1 acompanhou os bastidores da gravação e conversou com Ney Matogrosso e com os diretores Helena Ignez e Ícaro Martins (veja o vídeo acima).

O personagem Luz Vermelha foi inspirado no bandido que roubava mansões munido com uma lanterna, na São Paulo dos anos 60, mas a história de Sganzerla é uma ficção. No novo filme, cujo roteiro também é do cineasta, morto em 2004, o bandido está preso e conhece o filho, fruto de uma aventura com uma mulher que o visitou na cadeia. Luz Vermelha rejeita o jovem, que resolve seguir a “profissão” do pai.

‘Terceiro imundo’

Helena Ignez, viúva de Sganzerla, diz que, ao escolher Ney Matogrosso, esperava obter a atitude de “um símbolo que quebra tabus, que alarga o comportamento mental”. E a expectativa foi correspondida. “Às vezes eu fico na dúvida: ele é um cantor ou é um ator que finge que é cantor”, aplaude Ícaro Martins.

Ney Matogrosso em cena do filme como Bandido da Luz Vermelha (Foto: Gabriel Chiarastelli/Divulgação)

Esta não é a estreia de Ney na telona. O cantor, que já atuou em um longa-metragem e em dois curtas, admite que aceitou o convite “meio assustado”, mas topou o desafio e até dá sugestões no texto e na caracterização do personagem. “Eu ofereci para ela (Helena Ignez): que tal se o Luz Vermelha tivesse um olhar parado? Achei que poderia ser interessante uma pessoa que olha de olho aberto, que não pisca.”

A pedido dos diretores, ele também empresta a Luz Vermelha o exibicionismo do personagem que encarna nos palcos. “O personagem faz ginástica. Ele se olha no espelho muito. É nisso que eu acho que a gente está colocando aquele meu lado do palco, que é uma coisa de eu estar me exibindo.” Por outro lado, os gestos largos do cantor nos shows foram substituídos por uma atuação minimalista. “Aqui, o mínimo é muito. É tudo contido.”

Ney Matogrosso, que encerra em março, em São Paulo, a turnê “Inclassificáveis” - uma referência à sua versatilidade como intérprete -, fala que chega a se identificar com o também inclassificável Luz Vermelha - personagem a um só tempo cruel, engraçado e debochado. “Ele faz crítica social. Ele se diz um Robin Hood dos pobres. O ponto de vista dele é de defesa do povo brasileiro e eu concordo com isso. (...) Ele se refere muito ao terceiro mundo, ao terceiro imundo, ele fala.”

Cinema pop

De acordo com a diretora Helena Ignez, viúva de Sganzerla, o filme em produção adotará linguagem pop e vai dialogar com o do anos 60, por meio do uso de flashbacks. “É uma linguagem criativa. É um filme de invenção. É claro que é um filme para frente, e um filme de caos também”, define Ignez, que também atuou no filme de 68.

Personagem ressurge 40 anos depois em uma cadeia (Foto: Gabriel Chiarastelli/Divulgação)

As filmagens vão se estender pelo mês de março em outras locações da capital paulista, assim como o primeiro filme, que teve São Paulo como pano de fundo. A previsão é que “Luz nas Trevas, a Volta do Bandido da Luz Vermelha” chegue aos cinemas no final deste ano. O elenco também conta nomes como Maria Luísa Mendonça, Sérgio Mamberti, Simone Spoladore, Sandra Corveloni, Bruna Lombardi e Arrigo Barnabé.

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